O
texto de Jaime Marins publicado na coluna 1 da GAZETA DO POVO em sua edição
impressa de 21/02/12 continua atual e reflete muito bem o que passamos e iremos
passar nos próximos meses. E também na confecção do carnaval de 2017.
Além do texto juntamos apresentamos vídeo com
reportagem sobre o aumento para o consumidor final dos preços dos artigos
carnavalescos.
Gosto
muito dessa parte do texto:
“(...) O ritmo seria dado pelo fêmur dos contribuintes, que também forneceriam a pele para as cuícas. Hoje, o carnaval continua – e está cada vez melhor para o bloco fiscal. Alguém duvida? Dados do Ministério da Fazenda demonstram que em 20 carnavais a arrecadação global da União, estados, municípios e Distrito Federal cresceu de 25% para 35% do PIB.”
Isso, em 2012...
Carnaval Tributário – a folia dos impostos
James
Marins
Texto publicado na edição impressa de 21 de
fevereiro de 2012
Infelizmente para nós, meros contribuintes,
ninguém liga se o sistema é regressivo, complexo, cumulativo, injusto ou
insustentável. O que importa são os recordes arrecadatórios
Em 1989, o tributarista gaúcho Alfredo
Augusto Becker escreveu sua autobiografia que foi publicada com o sugestivo
título de Carnaval Tributário. Perplexo com a quantidade e a variedade de
tributos mascarados, Becker sugeriu que fosse formado o bloco carnavalesco
Unidos da Vila Federal, que sairia assim: o presidente da República e o seu
ministro da Fazenda desfilariam como abre-alas. O ritmo seria dado pelo fêmur
dos contribuintes, que também forneceriam a pele para as cuícas.
Hoje, o carnaval continua – e está cada vez
melhor para o bloco fiscal. Alguém duvida? Dados do Ministério da Fazenda
demonstram que em 20 carnavais a arrecadação global da União, estados,
municípios e Distrito Federal cresceu de 25% para 35% do PIB.
Por isso mesmo é que o Bloco da Reforma
Fiscal não vai para a avenida neste e nos próximos anos. A fantasia é a de que
“não há ambiente político”, mas essa máscara já caiu: a verdade é que em time
que está ganhando não se mexe.
Infelizmente para nós, meros contribuintes,
ninguém liga se o sistema é regressivo, complexo, cumulativo, injusto ou
insustentável. O que importa são os recordes arrecadatórios.
E os contribuintes se defendem como podem
(aqueles que podem), fazendo com que mais de 30% da atividade do Superior Tribunal
de Justiça e do Supremo Tribunal Federal sejam dedicadas aos conflitos fiscais.
Só que no Baile da Toga o contribuinte
quase não tem vez. Lá os foliões são os do Bloco Fazendário, da Procuradoria da
Fazenda Nacional, que ganha em quase todos os quesitos, desfilando alegorias e
adereços de grande criatividade, mas sem muito pudor constitucional, como
restrições das dedutibilidades, substituições para frente, fixação de pautas
fiscais, vedações às compensações, eliminação de imunidades e muitas outras máscaras
de injustiça fiscal.
Mas do Carnaval Tributário de 1989 para o
de 2012, nem o confete e a serpentina continuam os mesmos, pesados que ficaram
com 55% de impostos e contribuições. De lá para cá, vigorosas mudanças
culturais e tecnológicas alteraram o samba-enredo e as fantasias da relação
fiscal. Sociedade, economia, Estado e tecnologia não são mais os mesmos.
Basta observar, no desfile oficial, algumas
das “alas” que merecem destaque. A primeira delas é a Ala Tecnológica. Hoje,
aliás, o Carnaval Tributário é assustadoramente tecnológico. Nessa passarela
entram a nota fiscal eletrônica (NF-e), o Sistema Público de Escrituração
Digital (Sped), a Declaração de Informações sobre Atividades Imobiliárias
(Dimob) e a recém-nascida Declaração de Serviços Médicos e de Saúde (Dimed), e
muitas outras mais.
Todos esses componentes, aliás, sambam
velozmente em um supercomputador – do tamanho de um carro alegórico – que
recebeu a alcunha carinhosa de T-Rex, ou Tiranossauro Rex, e cujo destaque é
sua “inteligência artificial” denominada de Harpia – a maior ave de rapina do
mundo.
Logo, quem está na avenida, cuidado. Se
tropeçar no Imposto de Renda Pessoa Física, o que não é difícil diante do baile
das sutilezas legais, será atropelado, no cruzamento, pelo grande T-Rex.
Mas, se você, infelizmente, ganha tão pouco
que nem foi convidado para o Baile do Leão, azar o seu, porque aí a carga
tributária indireta – que incide sobre sua comida, bebida e a roupa que lhe
cobre o corpo – é de 53,9%, segundo o Ipea. Carga fiscal de Rei Momo,
justamente para os contribuintes mais desnutridos.
Mas uma das piores é a Ala das Sanções
Políticas. É lá que se reúnem as exigências de Certidões Negativas de Débito
para dispor de bens (CNDs), as invalidações de Cadastro de Pessoas Físicas
(CPF), a proibição de impressão de notas fiscais e até, como misteriosamente
“aprovou” o Conselho Nacional de Justiça, o protesto da dívida fiscal. Essa ala
é barra pesada.
No pequeno Bloco da Competitividade,
segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o solapamento da
sustentabilidade econômica pela tributação se potencializa diante da
globalização do mercado. Ou seja, nesse baile nossos produtos não entram.
Não há saída nessa avenida e, nesse
autêntico Carnaval Tributário, a marchinha preferida é, desde sempre, “Me dá um
dinheiro aí”.
James Marins, presidente do Instituto
Brasileiro de Procedimento e Processo Tributário, é advogado e pós-doutor em
Direito do Estado pela Universitat de Barcelona. Professor titular da PUCPR e
autor do livro Defesa e Vulnerabilidade do Contribuinte (Ed. Dialética).
Impostos e carnaval
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