sexta-feira, 7 de outubro de 2016

JOSÉ HADDAD, ESCOLAS DE SAMBA, TIMES e EQUIPES

JOSÉ HADDAD, ESCOLAS DE SAMBA, TIMES e EQUIPES

Findo o primeiro turno das eleições municipais encontramos brilhante artigo do responsável pelo órgão que realiza os festejos carnavalescos na cidade, José Haddad, onde presta verdadeira homenagem aos que se dedicam a produção, criação e efetivação dos desfiles das Escolas de Samba,

Trata-se do texto “A DIFERENÇA ENTRE EQUIPES E TIMES”, na coluna PONTO DE VISTA do jornal O FLUMINESE desta quinta-feira(06/10/2016).

Após analisar com propriedade a diferença entre ambos os termos (EQUIPE e TIME), deixa claro que os times concentram mais vantagens que as equipes que, muito embora por vezes formadas por vários “especialistas”, nem sempre se organizam de uma forma adequada, fazendo valer mais o individual que o coletivo.



No time, em suas palavras “Todos aprendem a lidar bem consigo mesmo e com os seus pares. Têm acesso à estratégia da Organização. Podem dividir suas ideias. As funções e as atribuições são redefinidas. Todos passam a se preocupar com todos. A comunicação flui. Passam a estabelecer suas prioridades. baseadas nas prioridades de seus pares. A responsabilidade com a performance e o resultado pretendidos passa a ser de todos”.

Conclui seu brilhante texto afirmando que:

Escolas de samba. preparando o carnaval, são os melhores exemplos de times que conheço:
Vestem a camisa; trabalham apaixonados. mais do que oito horas por dia. incluindo sábados. domingos e feriados; fazem sua tarefa com perfeição e se colocam a disposição para ajudar outras alas da escola. entendendo que se tudo não estiver cem por cento, a escola perde.
E no dia de mostrar o resultado, entram na avenida. cantando e sambando felizes. com espírito de campeões.

(grifo nosso)
Essa constatação nos envaidece. Ratifico que é muito bom para nós que efetivamos um desfile tê-lo como dirigente e responsável pelo evento em Niterói. É ainda melhor para a U.E.S.B.C.N. e os munícipes poder contar com um gestor de excelência no importante papel de Presidente da NELTUR.

Recentemente (23/07/2016) neste mesmo espaço tecemos algumas considerações sobre o trabalho e a importância da organização dentro da produção de um Desfile Carnavalesco no texto ATORES e AUTORES NA PREPARAÇÃO DE UM DESFILE (http://carnaval2016niteroi.blogspot.com.br/2016/07/autores-e-atores-na-preparacao-de-um.html).

Análises sobre práticas organizacionais tendo como referência o DESFILE DE ESCOLA DE SAMBA e sua importância na Cadeia Produtiva da Cultura tem sido cada vez mais comuns. Inúmeros foram os textos, teses, artigos e pareceres baseados nos dados obtidos na análise da cadeia produtiva do carnaval feita dos estudos de Prestes Filho (2009), sobre a cadeia produtiva do carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro.
 

 A cadeia produtiva do carnaval possui etapas distintas que constituem um ciclo de fabricação, cuja finalidade é o produto final que, no caso das Escolas de Samba, é o Desfile.

As etapas desse ciclo dizem respeito a: pré-produção, produção, distribuição, comercialização e consumo. Essas etapas convergem para o consumo, que é o desfile da escola de samba na avenida, que será acompanhado (“consumido”) por milhões de pessoas. Atualmente é transmitido para mais de uma centena de países em tempo real.

O carnaval é um espetáculo ao vivo, e este faz parte das atividades culturais produzida pela indústria cultural que integra a economia da cultura. No Brasil o interesse por essa temática tardou a chegar, diferentemente de outros países que há muito se interessam e beneficiam da economia da cultura.

O próprio Prestes Filho, ao tratar de parte dessa cadeia em Niterói declarou:

A Economia Criativa é considerada atualmente como um importante fator de desenvolvimento em diversos países, sendo um dos setores que mais cresce na economia mundial. No Brasil o Ministério da Cultura (MinC) vem trabalhando para o desenvolvimento do setor criativo de forma a garantir a continuidade dos projetos, mesmo com as mudanças de governo. Para tanto foi criado o Sistema Nacional de Cultura (SNC), modelo de gestão que visa estimular e integrar as políticas públicas culturais implantadas por governo federal, estados e municípios. (POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O SEGMENTO DE CURSOS DE TEATRO EM NITERÓI apresentado no IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL – POLÍTICAS CULTURAIS – 16 a 18 de outubro/2013 - Setor de Políticas Culturais – Fundação Casa de Rui Barbosa).

Ressalto os termos bem aplicados ao caso e usados por SACRAMENTO em seu artigo Escola de Samba: a organização reversa, onde leciona:

O exemplo da escola de samba deve ser motivo de reflexão, principalmente porque o seu “segredo” pode ser aplicado a outras formas de organização através do aprender a aprender, do investimento na sua capacidade de buscar e adequar soluções, na utilização criativa da tecnologia do conhecimento, e como conseqüência, de todos os recursos disponíveis, principalmente o humanos são otimizados e energizados.
O Professor da ESPM Marcelo Chiavone Pontes em seu texto A GESTÃO NO BRASIL IMITA O SAMBA mostra que as empresas brasileiras contam com um modelo de gestão muito próximo para seguir: o das escolas de samba nos desfiles de Carnaval e sua antiestrutura estruturada. Ressalto alguns trechos abaixo:
 

c) Gestão dos detalhes.
Uma escola de samba do grupo especial desfila com cerca de 4 mil integrantes, ou seja, tem o porte de uma grande empresa. No entanto, existe aqui uma característica única: a escola de samba se prepara o ano inteiro e tem apenas pouco mais de uma hora para apresentar seu trabalho. Para colocar na avenida desfiles maravilhosos, são necessários meses de trabalho para escolher o enredo, definir o samba, ensaiar a bateria, criar fantasias, adereços e carros alegóricos, coreografar passistas etc. Qualquer erro cometido pode ser fatal na hora da apuração, e não existe uma segunda oportunidade. Para aumentar ainda mais o desafio, devemos lembrar que um desfile é o único espetáculo artístico do mundo em que não existe ensaio geral
(...)
Uma das frases que se ouvem com alguma frequência nas empresas é que os funcionários devem “vestir a camisa da organização”. Na escola de samba isso é feito com naturalidade, pois existe um enorme senso de propriedade, e fica claro quando ouvimos algum integrante comentar: “Hoje tem ensaio na minha escola”. Walt Disney dizia que “você pode sonhar, projetar, criar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo, mas são necessárias pessoas para tornar o sonho realidade”.
(...)
e) Trabalho em equipe.
Essa ideia é totalmente pertinente ao universo das escolas de samba: de nada adiantam carros alegóricos com milhares de efeitos especiais e fantasias luxuosas, porque o que efetivamente ganha o Carnaval são as pessoas. Prova disso está nos quesitos de julgamento: harmonia, conjunto, evolução, comissão de frente, mestre­-sala e porta­-bandeira, bateria etc. Em suma, todos quesitos que dependem fundamentalmente de pessoas.

Como bem salientou CARLA ALVES LOPES em seu trabalho apresentado no SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, “O Carnaval na cidade do Rio de Janeiro, do ponto de vista dos organizadores, não pode ser considerado apenas uma manifestação cultural, mas um grande empreendimento, cujos objetivos convergem para a obtenção de resultados tal qual uma organização tradicional. A aplicação de um modelo de gestão eficaz é prioritária neste ambiente inovador, oferecendo vantagens competitivas para o resultado do desfile.”

A conclusão é no seguinte sentido:

A Escola de Samba é a própria existência de um povo que, independentemente de condição social, credo ou cor, persiste na manutenção de suas tradições. Esta manifestação artística é um produto de exportação, e demonstra, desta maneira, que a força de uma nação está em suas raízes culturais e sociais. É um evento de vulto internacional que gera riquezas e divisas para o nosso estado. Possui uma característica pró-ativa que está diretamente ligada ao empreendedorismo como segmento de mercado em ascensão.
As agremiações são vistas, atualmente, como grandes empresas e fonte geradora de empregos e lucros para a economia do país. Assim como as empresas convencionais necessitam de permanente evolução tecnológica e estrutural, além de profissionalização constante de seus quadros e administração, as Escolas de Samba também cumprem os mesmos processos.
Movimenta bastante a mídia, gera propaganda gratuita e evidencia bastante os seus patrocinadores, aquecendo, assim, ainda mais o mercado.
(...)
Para os patrocinadores e anunciantes sazonais, este evento é bastante atraente, pois favorece o crescimento de diversas atividades econômicas. Além de fomentar empregos diretos e indiretos e, ainda, promover melhorias nas comunidades que participam deste grandioso empreendimento, o seu sucesso se deve, sobretudo, à integração entre os diversos atores envolvidos.

CÉSAR TURETA, na brilhante dissertação (PRÁTICAS ORGANIZATIVAS EM ESCOLAS DE SAMBA: o Setor de Harmonia na Produção do Desfile da Vai-Vai. Tese de Doutorado Apresentada à Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas) esclarece já no resumo que “as práticas organizativas coexistem com processos de desorganização. Essa se apresentou uma característica marcante das práticas de produção do desfile.”(grifo nosso)

Diz ainda:

Tomando como ponto de partida minha relação com os sujeitos da pesquisa, analisei as transformações na minha identidade ao longo da pesquisa e as implicações disso para o trabalho.

Em suma: NINGUÉM NUNCA MAIS É O MESMO DEPOIS DE PARTICIPAR DE UM DESFILE DE ESCOLA DE SAMBA. Nem mesmo interessa se a pessoa PRODUZ ou desfile ou somente se APRESENTA como folião. E gestores/administradores ainda terão muito o que analisar, identificar e aprender nesse evento único que é o Desfile de Escola de Samba.


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